segunda-feira, 19 de novembro de 2012

CAP. 14 - Once Upon a time

CHAPTER FOURTEEN

Eu escutei um galho sendo quebrado próximo de mim e fiquei feliz de ter sido Benjamin. É claro que eu estava tensa, a escuridão dava a impressão de imensidão mas eu sentia que estávamos em um cubículo de teto baixo, as tochas davam uma ajuda, mas não o suficiente para me tranquilizar. Razar ficou responsável por escoltar a bruxa e isso, por alguma razão, não me tranquilizou em quase nada.


O comboio adentrou a caverna com cautela, o velho Mago entrou primeiro com o vilão na jaula, arrastando-a. Todos estavam com suas tochas empenhadas, inclusive Viviane,quer dizer, principalmente Viviane. Ninguém queria que um ladrão ficasse no escuro, ele poderia fazer qualquer coisa que não veríamos, isso era perigoso, estavam todos tensos e o medo era quase palpável, andavam juntos uns aos outros na vã esperança que isso bastasse para deixá-los mais corajosos, ninguém sabia dizer se era o escuro, o silêncio, o barulho dos passos ou simplesmente pelo fato de não saberem para onde estavam andando,que os deixavam mais nervosos; no escuro pareciam que tinha andado nem meio metro e na verdade não dá para saber a quantos quilômetros eles estavam perto do reino naquela altura. Razar conduziu-os em silêncio por quase quatro horas, todos estavam cansados mentalmente, mais do que tudo. Ao final da quarta hora, Melissa pingava de suor e Oliver sentia vertigem de andar no escuro sem saber onde estava realmente indo, foi quando começaram os murmuros dos ajudantes do comerciante mas logo foi silenciado pois começaram a sentir a terra tremer.

Foi quando o nosso escrivinhador morreu. Não cheguei a mencionar no começo da história, mas havia esse escrevinhador, não nos convém dizer quem é ele agora, mas ele soube de minha vida antes mesmo de eu saber que existia escrivinhadores por aí, o último registro sobre nós foi na caverna de acesso a Adalif, onde depois disso nunca mais o vimos, foi doloroso para mim e somente para mim, que sabia da existência dele. Todos nós estávamos tensos demais, nossas costas doíam e eu fui estúpida de não prestar atenção tanto quanto devia, aquilo era uma caverna. Quando sentimos o chão tremer logo levantamos nossas tochas, me esforcei para expandir a iluminação de mais de oito tochas juntas e meus ouvidos começaram a sangrar, pedras caíam e o pior foi perceber que estávamos a beira de um abismo. Eu não sabia o que falar no momento, olhei para Razar e ele estavam atônito, ou seja, fora pego de surpresa também, isso era péssimo. Meu anel de poder estava preso em meu dedo, mas eu não sabia o que fazer, eu não era uma feiticeira plena, eu era boa, mas não tinha um título como o de Razar. Ouvi um grunhido, um rugido, seja lá o que fosse aquele barulho tive certeza no momento em que o escutei que nunca mais iria sentir tanto medo, o som pareceu atravessar meus ossos e congelar minha espinha e isso me deu um olhar mais atencioso que me fez ver o que eu não acreditara estar vendo, um rabo gigantesco com escamas e elevações pontiagudas.
- ABAIXEM-SE! - Eu gritei no instinto protetor. Pelos cabelos brancos de Merlim, aquilo era o mais legítimo dragão. Não conseguia ver o rosto da coisa,mas tinha certeza que era um, avistei mais pelo lado direito uma fenda pequena que cabia passar uma pessoa por vez. - Razar, Razar! Eu vi uma coisa, eu vi.
- Eu sei o que é, você sabe certo? - Ele me retrucou num tom normal demais. Aquilo me irritou.
- Certo, eu sei. o que faremos? Parece estar acordando! Você é louco? Nos trouxe pra caverna de um dragão, de um dragão Razar, sabe que perigo estamos passando?
- Calculei mal, geralmente essa é a época em que eles estão hibernando por causa do tempo e da pouca oferta de comida. - Pela primeira vez achei o meu instrutor de longos anos um burro.
 - Razar! - exclamei sem paciência segurei-o pelos braços, ele não me parecia normal. - Você bateu com a cabeça? Se ele estava abalando a natureza e deixando agitados simples cervos imagine um dragão, Merlim, Merlim nos proteja! O que aconteceu com você? - Ele me olhou com um olhar tonto. Certeza de que ele estava fora de si. Deveria ter bebido algo, afinal de contas, ele estava vendo o seu primeiro amor sendo levado para a boca do lobo, ela iria morrer e talvez ele não fosse tão sábio quanto eu presumira.
O tempo estava passando e Oliver estava observando-nos e guiando o resto do comboio para fenda que eu havia visto, meu irmão era bem esperto, mas isso não mudaria em muita coisa, o dragão ainda poderia nos assar assim que bocejasse chamas de sono. Fiquei observando no escuro algum sinal para saber se eu tinha chance de sair daquela situação. Não me entenda mal, eu era uma mulher inteligente, mas descobrir que você está em um abismo dentro de uma caverna na "casa" de um dragão é de gelar a mente de qualquer um, além do mais meu coração doía pois eu havia perdido meu escrevinhador. Com a força do meu anel eu conseguir abranger a iluminação da minha tocha, eu não havia feito isso antes porque não era necessário, não havia a necessidade de eu gastar minhas energias e queimar o dedo com uma coisa que não adiantaria em nada, naquele instante era diferente, o meu medo maior era ver a coisa. Quando a minha tocha começou a iluminar um espaço maior, vi um brilho do outro lado, era uma corrente de prata grossa. Uma corrente de prata. acho que eu só vira prata uma vez na vida. Tão logo eu vi aquele reflexo metálico, meus olhos seguiram até onde a corrente mergulhava na escuridão. Silêncio. Daria tudo para ter meus escrivinhador naquele momento. Oliver estava ao meu lado, Ben estava na beirada do abismo tentando enxergar algo além da escuridão, os outros, incluindo Razar, haviam subido por uma rampa que ficava à esquerda, dando acesso a um corredor, adentrando ainda mais dentro da caverna, aquela altura eu já duvidava da sanidade mental do meu tutor. Senti o chão estremecer, finquei a minha tocha entre as pedras, pra ficar fixo, olhei pra Oliver. O que eu faria? Não lembro de ter tido aula de "como matar dragões" com Razar, mas felizmente ouvira uma história de um dos magos que havia matado um dragão e isso me apavorou mais ainda, o gênio do mago havia entrado dentro do dragão na ocasião e eu nem sabia ao certo até que ponto isso era verdade, se o animal cospe fogo ele deveria ter morrido fritinho. Além disso, eu não sabia mais nada do que fazer, olhei para Ben e Oliver, os dois haviam visto as correntes também isso nos deixou nervosos, principalmente a mim. Primeiro rugido, um medo passou por mim e gelou minha espinha, o que fazer? Senti o chão tremer sob meus pés e o barulho de algo se movimentando rápido, meu coração acelerou e eu me juntei aos meu companheiros, fiquei entre os dois e ficamos ouvindo o barulho. Quantos metros de profundidade teria o penhasco? E foi então que vimos  a besta, com o nariz brilhando em chamas e as asas maiores que eu poderia imaginar, paramos. O que fazer, o que fazer? Andamos alguns passos para trás, o lagartão voou até o alto da caverna, lá em cima, onde havia somente um resquício de luz, que indicava que estávamos muitos metros abaixo da superfície.
- Temos que fazê-lo dormir! - eu gritei a Oliver e Benjamin. Achei que fosse a única solução.
- Fazê-lo dormir? Sorte nossa que ele não nos viu ainda, irá nos matar! - Disse meu irmão
- Se matarmos ele cairá e a caverna vai perecer, se ele dormir, saímos vivos! Onde está o resto da caravana?
- Estão escondidos alí atrás. - Disse Benjamin - Fique tranquila, meu pai não vai nos deixar! Qual é o plano?
Qual é o plano? Como assim qual é o plano? Eu não tinha pensado em nada, mesmo assim olhei, para o lagartão que estava aterrissando novamente, ele não havia nos visto ainda mas seria por pouco tempo, isso nos deixava com apenas milésimos de segundos para bolar um plano rápido e eficaz, não sabia mais se era bom ou não matar o dragão, se ele estava alí é porque havia algo para ser protegido ou guardado, foi quando em pensei em apenas uma palavra: Água. Água, a pura e simples substância transparente, a ideia apareceu tão repentinamente na minha cabeça que eu não sabia dizer de onde saiu ou se ela já estava lá a algum tempo.
- Certo. Benjamin, precisamos do seu cantil, ele está na sua cintura? - eu não conseguia ver detalhes. Ele assentiu - Perfeito! Um de nós precisa subir nessa besta gigantesca e jogar água na sua boca quando ele bufar fogo.
- Ah claro, Melissa! Que ideia explêndida! Quer que nós entremos dentro da boca do bicho também, pelo amor de Deus irmãzinha, isso é insano! Depois de subir no bicho, sabe-se lá como faríamos para voltar para terra firme! - Disse Oliver, obviamente achando minha ideia muito estúpida, é claro que tive que concordar com alguns termos ditos.
- Bem, acho que a gente tem um chance só então, e sem água, mas aguardente. Quando ele subir de novo nós três pulamos nas costas dele, não dá pra fazer isso sozinho. Eu vou até a boca dele e jogar o cachaça goela a dentro, ele não tem sensibilidade, irá se irritar. - Expôs Benjamin, o que eu achei muito pertinente, mas com uma falha.
- Certo, e como saímos? Essa não é a questão principal? - Perguntei.
- Claro, quando ele subir, irá alto o suficiente para chegar na fonte de luz lá em cima, está vendo? É lá que devemos pular!
- E os outros? E Razar, seu pai? - Oliver sempre foi muito preocupado com as pessoas ao redor dele e eu sempre admirei isso.
- A gente volta pra buscar, é o único jeito! Senão a besta vai continuar indo pra lá e para cá e vai desmoronar tudo! Ele não vai dormir, mas vai ficar quieto o tempo suficiente para a gente tirar todo mundo daqui de dentro. - Ele correu para a fenda no final do penhasco e gritou - Pai, leve todos para a saída, cadê o velho?!  - Benjamin grudou nas vestes de Razar e no tom mais sério e temido possível disse - Você vai levar esse comboio em segurança para a saída. Isso não é uma pergunta.
A essa altura o dragão estava rugindo e voando de um lado para o outro. Céus. Eu não sei explicar porque ele não nos viu, aquelas tochas fincadas nos espaços entre as rochas, e me dei conta que talvez o dragão fosse cego. Estava com medo, é claro, havia um bichão enorme voando para lá e para cá e nós íamos pular nas costas dele, ninguém havia mencionado a chances de cair,  mas eu sabia que era grande. Benjamin voltou e se postou ao meu lado, Oliver estava do outro. Pelas barbas de Merlim, eu estava tremendo. Certo, eu disse a mim mesma, você é uma feiticeira, aprendiz, certo, vamos lá Melissa.
- Prontos?! - Ouvi Oliver dizer. Eu assenti. Não vi se Benjamin assentiu, estava me concentrando. - Em três, dois...
Não ouvi o um, mas pulei no tempo que eu achei que ele diria, com os olhos fechados. Anotei na minha mente em pedir para o Razar me ensinar a voar, se isso fosse possível. Senti meu rosto bater em uma superfície áspera e dura, me agarrei no que parecia ser uma viga. Quando abri os olhos, lá estava eu nas costas do dragão, em alta velocidade, subindo e descendo no escuro. Só sentia o vento no meu rosto, mas não sabia o quão baixo estávamos indo. Eu gritei:
- Acho que deu errado! Estamos descendo! - Olhei para os lados e não havia ninguém. Pânico. Olhei para baixo e lá estavam os dois pendurados mais para o meio das costas, enquanto eu me situava mais para perto da cabeça. - Desçam! - Eles não me ouviram, claro. Mas se tivessem ouvido teriam feito imediatamente. Certo. Fiquei lá segurando firme para não cair. E o bicho continuou descendo, descendo e descendo, quando comecei ver uma luz vinda de lá de baixo, brilhante, azul e cada vez mais forte conforme a chegávamos mais perto. Estávamos no sentido completamente oposto ao que planejávamos.O lagartão começou a diminuir a velocidade e foi aí que percebi que talvez aquele animal fosse mais inteligente do que eu pensava, não agiu por instinto, nos levou até o fundo da caverna, assim não poderíamos sair e morreríamos seja do que for, fome, intoxicação ou qualquer coisa que se pegue a mais de mil metro de profundidade. Merlim! Parecia que havíamos caído por mais do que alguns minutos. A luz preencheu o espaço em que estávamos percorrendo e o Dragão adentrou a fenda de onde vinha a luz, que eu percebi não ser totalmente azul, mas sim a luz do sol, um sol esquisito que não tinha a coloração amarela, viva e radiante que víamos sempre, no entanto estávamos no lugar mais lindo que eu já havia visto na vida.Uma vegetação rasteira dominava a paisagem e havia macieiras espalhadas e um rio que corria no de duas elevações menores que montanhas, a luz sobre nós era azulada vinda do suposto sol que víamos lá no alto, olhei para Oliver e Benjamin, como estávamos voando reto ele já tinham se recuperado e estavam do meu lado, maravilhados assim como eu. Que lugar era aquele? Não sei, mas não parecíamos estar dentro da Caverna, quem era o dono daquelas Terras? A relva verdinha e alguns animais pastavam ao longe, mas não havia sinal de nenhum pastor ou fazenda próximas. Abruptamente o dragão parou e nós caímos do seu pescoço, ele não estava voando alto, por isso só ganhamos alguns arranhões, mas assim que batemos as costas na relva macia e nos levantamos, um pequeno desespero bateu. Não sabíamos onde estávamos. O lagartão, nos deixou lá e voou longe. Em nenhum momento deu a perceber que ele queria nos matar. Olhando ao longe, no horizonte vi o que parecia ser uma torre de castelo.




Um comentário: